ANA PAULA FRANZOIA E ANTONIO GONÇALVES FILHO
O outro lado da história é contado por psiquiatras. Pais de adolescentes com distúrbios de linguagem estão levando os filhos ao consultório e recebendo um diagnóstico, no mínimo, preocupante: suspeita-se de uma onda de 'dislexia discursiva'. O jovem, que até então não apresentava nenhum problema na escola, começa a ter uma avaliação catastrófica dos professores. Perde a capacidade de entender o que lê fora do ambiente da rede. Sem entender, não tem condições de julgar, e sem posição crítica fica incapacitado de reflexões profundas sobre a realidade que o cerca. Os pais imaginam que o filho está mentalmente perturbado ou tomando drogas, mas ele apenas renunciou a seu potencial expressivo para adotar a linguagem estereotipada da internet. Adolescentes viraram suas vítimas preferenciais. Os jovens erguem uma barreira contra seus pais, que não compreendem uma só palavra das mensagens trocadas com os coleguinhas, mas ficam igualmente isolados, incapacitados de escrever segundo os códigos lingüísticos formais. O alerta é do médico e neurocientista paulista Cláudio Guimarães dos Santos. 'Essa simplificação da linguagem pelos adolescentes não pode ser entendida como alternativa, porque esse código acaba tomando o lugar da escritura convencional', analisa. 'Ninguém escreve um tratado de física com carinhas e usar o código da rede sem dominar o formal gera erros de percepção.' O psiquiatra refere-se aos ícones conhecidos como emoticon, que os internautas usam no correio eletrônico e em seus weblogs para comunicar aos interlocutores que estão tristes, alegres, entediados, eufóricos ou simplesmente indiferentes.
'As abreviações, os signos visuais e a ausência de acentuação representam apenas um jeito de se adaptar ao teclado', observa o professor. Ele não acredita que a norma culta será contaminada pela simplificação. 'Os adolescentes sabem que ela deve ficar restrita ao ambiente da rede e não tenho notado um empobrecimento nos textos dos alunos por conta da adoção do código da internet.' Mas as redações poderiam ser melhores se a leitura fosse um hábito familiar, admite. O estudante Leandro Rodrigues Gonçalves, de 17 anos, mantém seu blog como um diário para 'criticar' religiosos, 'polemizar'. Como outros blogueiros, começou a usar 'eh' no lugar de 'é' e trocar 'não' por 'naum' até pensar no vestibular e concluir que era melhor render-se à sintaxe convencional. 'A rede me estimulou a ler e a escrever poesia', conta. Já Victor Zellmeister, de 15 anos, acha que a internet não aprimorou seu desempenho. Assim como o colega Gustavo Simon, garante não usar a 'língua' da internet na aula. Colega dos dois, Rafael Mielnik não confunde rede com escola. 'Só uso a net para inutilidades.' Educadores não identificam perigo nessa linguagem eletrônica. 'Costumamos ver com desconfiança aquilo que foge ao nosso controle, mas não acho que a rede empobrece a língua', afirma a orientadora pedagógica Elione Andrade Câmara. Com ela concorda David Crystal, que costuma rir quando alguém diz que a nova tecnologia está sufocando a gramática e matando a cultura: 'Sinceramente, acho até que a literatura possa ficar mais rica ao incorporar expressões de blogueiros do meio rural, produzindo outros gêneros e abrindo uma dimensão diversa para a escrita'. Assim seja. |
Gostei do Blog, os temas dialeto gaúcho e português.com, demonstram a evolução das variações lingüística, o que comprovadamente é um processo evolutivo do uso da linguagem.
ResponderExcluirHugo Luiz dos Santos/curso Técnico de Administração/Pólo de Santo Antônio da Patrulha.
Embora o fundo seja escuro, as letras maiores e em tom branco auxiliaram a leitura das postagens!
ResponderExcluirMuito bom!
Professora cristiane
òtimo conteúdo, mas implico um pouco com o fundo escuro...
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